quinta-feira, 26 de maio de 2016

Todos os pedidos silenciosos que você me faz

Eu vou dizer não a todos os pedidos silenciosos que você me faz.
Com os olhos, com os beijos, com as surpresas, com um lado de você que nasceu por mim.
Todos os pedidos que eu não posso atender, todas as dores que eu também já senti e sinto...
Todas as imprevisíveis intimidades, todas as semanas que se passaram.
Teve gosto de chuva breve, tempestade curta, galho quebrado por raio.
Todas as palavras repetidas, todos os pedidos silenciosos que você me faz.
Eu só posso atender a um capricho. Eu só posso ficar mais meia hora.
Eu vou cantar e esquecer... aquele rock de garagem que você escreveu.
A vida não é um filme em preto e branco e eu não posso ser a estrela do seu show.
Eu era o desastre perfeito.
A musa, a inspiração. Eu era uma rainha, alguém que você não podia ter na mão.
Eu era a ideia, era o ideal. Eu não era real.
Obrigada por me inventar.
Eu vou continuar como troféu, na sua sala de estar...

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

se eu pudesse fazer uma fogueira com todos os meus desejos
certamente queimaria por mais anos do que durará minha vida
os desejos que alimentam a fogueira, são os que me matam de certa maneira
na poesia o coração fala, o que os outros textos apenas sugerem
minha literatura cada vez mais cheia de técnica,
minha alma cada vez mais feeling...

enquanto o corpo adoece, minha mente cresce
se expande e convulsiona
cada momento uma nova ideia
me consome
me leva pra longe do concreto
nunca tive raiz
meus pés não são no chão
tudo que há é a conexão
entre a cabeça criativa e minhas mãos
lentas demais para fazer tudo aquilo

sou minha matéria prima e me consumo
não é sustentável
como cansa ser artista

pensamentos excessivos me afogam
a impossibilidade da plenitude angustia
andando na corda bamba, eu reflito
na sede do futuro e nos ecos do passado
o presente é um caos bem organizado

desmaio e me amorteço...
me abstraio com a rotina
de tudo que sinto
no equilíbrio não me reconheço
tudo que causa dor me fascina

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

motivos sem razão

como se o espírito fosse fogo e jamais pudesse ser acalmado
com qualquer água, qualquer ser amado
com todos os "adeus" possíveis
com todos os reencontros certos
na mira de sua má intenção
do outro lado eu acendia o pavio de um canhão

tudo que é bom chega tarde
e todas as brincadeiras começam cedo
nos dias estranhos, sem tempo definido, a ferida arde
e quando é inverno estremeço
porque rimar com o coração não é arte
é desespero e me dá medo.

olhos cansados não focam, mas a voz muda ainda fala
pela poesia a voz fala, apesar do cansaço
os olhos escondem, só lendo é possível
decifrar e ouvir, conhecer e sentir
era tão pouco e mesmo assim: estardalhaço
te inventei e agora te torno crível.

pois não é a água, mas são os ventos que trazem
não é tempo, é algo perdido no tempo
é o silêncio que existe dentro da palavra
a ansiedade que chega e não vai embora
as horas que me tratam como escrava
o espírito é fogo e não tem sossego